O MEDO DE ERRAR E A BELEZA DAS IMPERFEIÇÕES

Em dias chuvosos e de mente inquieta, quando o cansaço se soma à incerteza, costumo revisitar escolhas e questionar ações. E se tivesse feito diferente? E se houvesse um jeito de rebobinar e corrigir? O medo do erro paira sobre nós como uma sombra, como se cada decisão equivocada fosse uma marca permanente, um fardo a ser carregado.
Penso em voltar pra cama e me abrigar em baixo dos lençóis e do edredom pesado; talvez no sonho eu possa rebobinar tudo pra começar novamente. Acabo desistindo…
já foi! E como se diz em ditado popular: “Agora Inês é morta.” De súbito, me vejo pensando nesta história de amor e tragédia à moda Shakespeareana envolvendo Dom Pedro I e Ines de Castro. E e como o rei, ao tentar reverter o covarde, injusto e brutal assassinato de sua amante, desenterra o corpo já em estado putrefato, coroa o cadáver e obriga a corte a beijar a mão desta que agora é sua Rainha.
A história de Inês de Castro, ilustra bem essa urgência de reparar o que já foi feito, de tentar mudar o irremediável. Mas a verdade é que nem sempre há como reverter o passado, e talvez nem devêssemos tentar. Ao contrário de nós, os filósofos sempre refletiram sobre esse assunto. Friedrich Nietzsche nos lembra que o erro é parte da jornada, e que é preciso abraçar a vida em sua totalidade, com suas falhas e contradições. Já Montaigne, em seus ensaios, defendia que o erro não define nossa essência, mas sim o que aprendemos com ele.
Vivemos em um mundo que rejeita a falha, que a vê como sinônimo de fracasso. Mas ao esconder nossas imperfeições, não perdemos também parte da autenticidade? Alain de Botton sugere que é justamente na vulnerabilidade que encontramos conexão e crescimento. Ele argumenta que a cultura do perfeccionismo nos aprisiona, impedindo-nos de experimentar, criar e evoluir. Errar não é o fim do caminho, mas um passo necessário na construção do conhecimento e da experiência.
Se errar é tabu, precisamos desafiar esse paradigma. Como propõe os estoicos, ao invés de temer o erro, devemos aceitá-lo como um professor. Sêneca defendia que a vida é um grande laboratório, onde aprendemos a cada tentativa, e que a verdadeira sabedoria vem da capacidade de enfrentar os desafios sem nos rendermos a paralisia do medo.
O dia recomeça e a mente segue acelerada, como um velocímetro marcando 300 por hora. Digo a mim mesma pra ter calma, pois há sempre a possibilidade de respirar fundo e recomeçar. O erro não é uma sentença, mas um sopro de aprendizado, uma pluma de Dente de Leão lançada ao vento, buscando solo fértil para florescer. Nem tudo aterriza onde gostaríamos, mas o importante é confiar. Pois “Chega o dia em que o risco de permanecer contido dentro de um botão é mais doloroso do que o risco de explodir em flor.” — Anaïs Nin
Que sejamos corajosos o suficiente para florescer, apesar e principalmente por causa dos nosso erros!